
Na sociedade industrial, tudo que um artesão precisava saber era adquirido no aprendizado do seu ofício, durante dois ou três anos, estando pronto aos 18 ou 20 anos para o exercício vitalício de sua atividade. Na sociedade do conhecimento, quem não se atualiza a cada quatro ou cinco anos se torna obsoleto. Resumindo: seremos eternamente reféns de escolas.
Estima-se que, por volta de 2015, mais de 50% das pessoas estarão trabalhando em atividades que hoje não existem. Abre-se aí uma grande oportunidade de empregos. Por outro lado, serão empregos pautados em intensivo capital intelectual onde não mais a tecnologia e sim as pessoas estarão à frente destes novos negócios emergentes.
Uma empresa média bem estruturada possui hoje um conjunto de novas áreas que não existiam há cinco anos: áreas de relacionamento, e-business, responsabilidade social, inteligência de mercado, novos negócios. Áreas que demandam criatividade, inovação e, sobretudo, a subjetividade e a intuição do cérebro humano. Estudos mais apurados sobre a gestão do conhecimento afirmam que 42% do conhecimento de uma empresa está na cabeça das pessoas e apenas 32% está em bases e documentos eletrônicos.
É muito comum citações de empresas que orgulhosamente afirmam que o maior patrimônio que elas possuem são as pessoas. Na sociedade atual esta afirmação não faz o menor sentido. Este contexto é típico de empresas da sociedade industrial, onde de fato o funcionário saía da empresa ao final do dia, deixava o seu cérebro na empresa e ia somente com o corpo para o lar. Hoje, o indivíduo deixa a empresa e leva consigo a ativo mais importante: o conhecimento. Definitivamente, as empresas começam a se tornar reféns destes profissionais que detêm um conhecimento não convencional.
Esta situação não é regra geral para todos os funcionários que constituem uma empresa, mas sim para aqueles que usam diariamente a subjetividade e a intuição para adicionar riqueza aos negócios. Este conhecimento, muitas vezes, não é unicamente um conhecimento explícito. Na maioria das vezes é um conhecimento tácito, não articulável, que reside na cabeça e é de difícil explicitação. Temos que reconhecer que a quantidade de informações disponíveis hoje virou um grande estorvo para as organizações. O que vai prevalecer é o conhecimento que não está catalogado nos servidores de informática, mas no interior das pessoas.
Como então disseminar este conhecimento dentro da empresa para que mais pessoas se apropriem deste conhecimento? Pessoas valorizadas não se sentem ameaçadas e não tem necessidade de ameaçar. É a insegurança que estimula a retenção do conhecimento. Lembram da visão marxista de que os trabalhadores deveriam ser donos dos principais ativos da sociedade, os meios fundamentais da produção? Agora nós o detemos… Talvez os tenhamos detido durante todo esse tempo, mas não tivemos a clareza de perceber isso. Os trabalhadores controlam o principal meio de produção. Em uma empresa moderna, de 70% a 80% do que as pessoas fazem agora é realizado pelo seu intelecto. O meio fundamental de produção é pequeno e cinza e pesa 1,3 kg: é o cérebro.
Marx gostava de afirmar que as pessoas são muito mais felizes criando e não praticando trabalhos rotineiros e alienantes que não demandam a criação. Camaradas, Marx escrevia sobre isso no inicio do Século XIX e não foi muito bem compreendido.
As pessoas trabalham nas organizações tendo deixado de ser propriedade de alguém desde o fim da escravidão. Além disso, competências, relacionamentos pessoais e habilidades são propriedades exclusivas do indivíduo. As empresas utilizam o capital intelectual das pessoas sem, no entanto, deter sua propriedade. O que faz as organizações funcionarem é o conhecimento. O conhecimento não é algo novo. Novo é reconhecê-lo como um ativo corporativo e entender a necessidade de geri-lo e cercá-lo do mesmo cuidado dedicado à obtenção de valor de outros ativos mais tangíveis. A gestão do conhecimento não trata propriamente de um mundo novo, mas de um novo olhar sobre o velho mundo.
Recentemente, um grande banco brasileiro adquiriu uma grande companhia de seguros e, em seu comunicado a imprensa, citou que um dos principais atrativos que o levou a adquirir a empresa era a equipe especializada em venda de previdência privada formada e treinada pela companhia adquirida. São dois mil corretores e mais de cem funcionários especializados que vão agregar muito valor à estratégia de vendas do banco.
Uma das maiores consultorias do mundo, em menos de 30 dias, derreteu e não conseguia mais contratar estagiários. Este estrago não foi feito por nenhum ataque terrorista a sua imponente sede administrativa. Virou pó porque foi refém de altos funcionários que maquiaram informações. Bons eram os tempos que as empresas se orgulhavam e muitas faziam enormes fachadas em suas sedes com os dizeres: Sede Própria.
Os trabalhadores do conhecimento não terão a típica relação contratual de trabalho. Em lugar disso alugarão suas habilidades profissionais e seus conhecimentos a diferentes empresas em diferentes momentos. No ambiente global 24/7 a produtividade será comandada pela velocidade e pela eficiência, mais do que pelas horas trabalhadas. As pessoas não trabalharão em empresas nas quais não ganham uma parcela dos lucros e nem nas quais não haja um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. As pessoas se sentirão cada vez mais donas de seus destinos, de suas vidas e de suas carreiras. As “técnicas da vida” serão tão importantes quanto as “técnicas profissionais”.
Será que chegou a hora e a vez do proletariado? Em muitos casos, sim. Nos locais onde o fator predominante de produção e riqueza for o Ser Humano as empresas deverão aprimorar cada vez mais os seus níveis de empresabilidade criando ambientes novos e desafiantes de trabalho para reter estes profissionais. Camaradas, o velho Marx estava certo. Trabalhadores do conhecimento, uni-vos: o poder está em vossas mentes.
Romeo Deon Busarello
Diretor de Internet Tecnisa
Professor dos cursos de MBA e Pós-Graduação da ESPM e IBMECINSPER
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